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As letras publicadas referem a fonte de extração, ou seja: nem sempre são mencionados os legítimos criadores dos temas aqui apresentados.
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Fado do cauteleiro

Frederico de Brito / Júlio de Sousa *fado loucura*
Repertório de Manuel Fernandes
Criação de Estevão Amarante na revista *Tremoço Saloio* 
Teatro Avenida em 1929
Informação de Francisco Mendes e Daniel Gouveia no livro
Poetas Populares do Fado-Canção

Sem ter norte nem ter lar
Dizem p’raí que dá sorte
O que é pra mim tanto azar
É loucura que eu desdenho
Andar da sorte à procura
Da pouca sorte que eu tenho

Sem carinho 
Pelas ruas e vielas
Apregoando as cautelas 
Vou seguindo o meu caminho
E quem me ouve 
Cantarolar esta moda
É o 1249 
Que amanhã é que anda à roda
Sente a vibrar como um fado
O pregão dum desgraçado

Se um malvado ri de mim
Não vê que eu sendo aleijado
Minh'alma não é assim
Quem da sorte ri dos mais
Não se lembra que na morte
Nós somos todos iguais
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Versão Original

Sem ter norte nem ter lar
Dizem p’raí que dá sorte
O que é p’ra mim tanto azar
É loucura que eu desdenho
Andar da sorte à procura
Co’a pouca sorte que eu tenho

Sem carinho
Pelas ruas e vielas
Apregoando as cautelas
Vou seguindo o meu caminho;
E quem me ouve
Cantarolar esta moda:
(É o mil duzentos e quarenta e nove
Que amanhã é que anda a roda!...)
Sente vibrar como um fado
O pregão do desgraçado!


Se um malvado ri de mim
Não vê que eu, sendo aleijado
Minh’alma não é assim
Quem na sorte ri dos mais
Não se lembra que na morte
Nós somos todos iguais!

Os cauteleiros, figuras típicas ainda não completamente extintas de uma certa Lisboa 
são ocasionalmente referidos em Fado. 
Não esqueçamos que foi ouvindo um cauteleiro cantarolando o seu pregão, frente ao cinema Odeon, que Alfredo Marceneiro 
aproveitou essa linha melódica para compor 
o seu consagrado Fado Odeon.
António Aleixo, ele próprio vendedor de lotaria entre outras profissões precárias, compôs quadras que bem poderiam 
ser cantadas num fado sobre estas personagens cuja «pouca sorte» o genial algarvio sentia na pele:

De vender a sorte grande 
Confesso, não tenho pena
Que a roda ande ou desande 
Eu tenho sempre a pequena

Ou esta outra:

Sou um cauteleiro em forte 
P’ra vender jogo me empenho
Se um dia vender a sorte 
Vendo aquilo que não tenho

A letra do Fado do Cauteleiro é de 1929 e o primeiro livro de Aleixo, com as quadras citadas, só foi publicado em 1943. 
Pondo-se a questão de um poeta poder ter influenciado o outro, embora vivendo em cidades e ambientes diferentes, a dúvida 
foi esclarecida por José Pracana que, tendo privado com Frederico de Brito, confirmou haver troca regular de correspondência entre ambos.
Há uma excelente interpretação do Fado do Cauteleiro, gravada mais tarde por Manuel Fernandes